CIRCULO FILOSÓFICO

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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

NASCIMENTO DA TRAGÉDIA DE NIETZSCHE

* Mauro Ferreira de Souza é Bacharel em Teologia e Filosofia com Especialização e Mestrado nestas áreas e História. Todos pelas Universidades Mackenzie e Metodista O POLÍNIO E O DIONISÍACO NO NASCIMENTO DA TRAGÉDIA DE NIETZSCHE RESUMO “O Nascimento da tragédia” é publicado em 1872 começa falando do drama musical grego, onde a princípio, o dionisíaco se opõe ao apolíneo. O deus Dionísio, do vinho e da festa, levava, em seus cultos, à experimentação dramática da existência. Os homens experimentavam a exacerbação dos sentidos, a vertigem e o excesso nos cultos ao Dionísio, o Baco dos romanos. A palavra bacanal deriva dessas festas em homenagem a Baco. O dionisíaco, é como um apolíneo uma pulsão cósmica, só que de outro tipo. Nela, se aniquilam as fronteiras e limites habituais da existência cotidiana. É o prazer da ação, a inspiração, o instinto. A existência cotidiana e dionisíaca são separados um do outro. Mas ao passar ao turbilhão perceptivo do culto a esse Deus, volta-se ao estado normal, deseja-se a vida ascética. Os Deuses gregos eram necessários para esse povo, diz Nietzsche, porque legitimavam a existência humana. Os homens viviam seus deuses, que mostravam a vida sob um olhar glorioso. Na tragédia grega, a platéia participava também , era artista. A tragédia se opõe a comédia. Nos cultos, o Deus se revela, mostrando o drama da individualização. O livro de Nietzsche é o de um especialista em cultura grega, e sua mitologia. Transborda de lirismo. O apolíneo surge nas homenagens ao Deus Apolo. É o inverso de Dionísio, pois é o Deus da moderação e da individualidade, do lazer, do repouso, da emoção estética e do prazer intelectual. Esse Deus surge, na cultura grega depois de Dionísio. A arte grega retratava seus deuses, as pulsões cósmicas se manifestavam nas atividades . A arte grega era a união desses dois ideais, que se alternam. A música e o mito são inseparáveis na arte grega. O mito trágico expressava toda a crueldade do mundo dionisíaco. O coro é dionisíaco, e o diálogo, apolíneo. O pessimismo estava presente na arte, pois os gregos conheciam a dureza da vida. Essa dureza leva à desilusão, que é vencida na arte. A complementação que existia nas experiências antagônicas do Dinosíaco e Apolíneo foi destruída pela civilização. É sobre esses dois princípios nietzschiano que vamos discorrer. O princípio apolíneo e o dionisíaco. INTRODUÇÃO E CONSIDERAÇÃO DA OBRA Esta obra do Nietzsche ainda jovem despertou polêmica pelo seu caráter pessoal e pela ousadia de sua abordagem. Essa ousadia era concernente ao entendimento grego das obras literárias antigas e mitológicas e a estética. Desafia nesta obra a concepção grega tradicional. Ele oferece não somente uma interpretação da tragédia, mas da própria cultura grega em um nexo entre a arte e o conhecimento e da época moderna. Neste sentido a obra, primeira de Nietzsche já começa a se revelar um pensador apaixonado pela reflexão acerca do sentido da existência. A obra se desenvolve em torno a teses sobre a vida, a religião e a poesia grega. A primeira dá conta de seu conceito de arte, produto de dois espíritos, o apolíneo e o dionisíaco. Nietzsche postula aprioristicamente a existência desses dois espíritos, sob cuja influência nascem os diferentes tipos de arte: do espírito apolíneo provêm as artes plásticas; do espírito dionisíaco, a “arte sem formas ou musical”; da fusão dos dois, procede “a obra superior que será ao mesmo tempo apolínea e dionisíaca, – a tragédia ática”. Por sua vez, a evolução da arte “resulta do duplo caráter do espírito apolíneo e do espírito dionisíaco”. Por outro lado, os deuses gregos eram necessários para esse povo, diz Nietzsche, porque legitimavam a existência humana. Os homens viviam seus deuses, que mostravam a vida sob um olhar glorioso. Na tragédia grega, a platéia participava também, era artista. A tragédia se opõe a comédia. Nos cultos, o Deus se revela, mostrando o drama da individualização. O livro de Nietzsche é o de um especialista em cultura grega, e sua mitologia, mas parte para arte contida nas tragédias. O tradutor e comentarista do livro em epígrafe, Jacó Guinsburg diz sobre a obra o seguinte: Primeira obra de Nietzsche, “O Nascimento da Tragédia” continua suscitando a mais viva atenção dos que fazem arte e dos que pensam a arte e o homem. Em seu rastro de cento e vinte anos, os fogos de admiração entusiástica e da polêmica crítica não cessam de assinar a sua passagem pelo pensamento e pela sensibilidade modernos. Se se perguntar pelas razões disso, muitas poderão ser as respostas igualmente válidas e que se colocarão nesta ou naquela relação com a reflexão ulterior do filósofo, com o debate de idéias no movimento filosófico e com o processo das artes em nosso tempo, com as críticas da sociedade e com as buscas de sentido e valores da existência. (NIETZSCHE: 1992, p.155). Quando escreveu “O nascimento da tragédia”, Nietzsche mantinha excelentes relações com Wagner cuja obra ele admirava por considerar paradigmática para os novos tempos. Contudo, logo sobreveio a decepção, sendo que, em seus últimos escritos, ele veio a considerar o compositor o exemplo acabado do artista decadente. Vale as observações críticos filósofos e literários de que esta obra aponta para a estética com uma conexão com a questão do poder e da vida num mundo dominado pelo senhores seja na religião seja no Estado dito moderno. Por outro lado vale a reflexão crítica de Zilberman ; O nascimento da tragédia aponta para uma releitura da tradição germânica de estudos clássicos e para uma reescrita da história da literatura a partir do conhecimento que tinha da arte grega, a discussão introjetada pela origem do drama barroco alemão emerge da leitura que Walter Benjamin fez de Nietzsche, estabelecendo-se, graças ao elo entre as duas obras, uma outra história, aquela que provém do diálogo intenso que se dá no interior do corpo literário. (ZILBERMAN: p.80). O livro tem forte influência de Wagner (1813-1883) e Schopenhauer. Segundo alguns comentaristas da obra, Wagner adorou o livro, dizendo que numa carta que suas palavras ainda não cobriam a grandeza do livro, pois eram insuficientes. Mas ele também provocou reações adversas, como a do helenista Mallendort. Pohden e Wagner respondem à crítica, que veio em forma de panfleto. Wagner gostava de Bakunin na juventude. PRIMEIRO PRINCÍPIO: APOLÍNIO O termo “apolíneo” refere-se ao deus Apolo . O apolíneo surge nas homenagens ao Deus Apolo. É o inverso de Dionísio, pois é o Deus da estética e da arte , também é da moderação e da individualidade, do lazer, do repouso, da emoção estética e do prazer intelectual. Esse Deus surge, na cultura grega depois de Dionísio. A arte grega retratava seus deuses, as pulsões cósmicas se manifestavam nas atividades. A arte grega era a união desses dois ideais, que se alternam. A música e o mito são inseparáveis na arte grega. O mito trágico expressava toda a crueldade do mundo dionisíaco. O coro é dionisíaco, e o diálogo, apolíneo. Em se tratando deste princípio expresso na obra de Nietzsche, ele diz: Essa alegre necessidade da experiência onírica foi do mesmo modo expressa pelos gregos em Apolo: Apolo na qualidade de deus dos poderes configuradores, é ao mesmo tempo o deus divinatório. Ele, segundo a raiz do nome o resplandecente, a divindade da luz, reina também sobre a bela aparência do mundo interior da fantasia. [...] Mas tampouco deve faltar à imagem de Apolo aquela linha delicada que a imagem onírica não pode ultrapassar, a fim de não atuar de um modo patológico, pois do contrario a aparência nos engana como realidade grosseira: isto é, aquela limitação mensurada, aquela liberdade em face das emoções mais selvagens, aquela sapiente tranqüilidade do deus plasmador. (NIETZSCHE: p.29) Para Nietzsche, Apolo é a representação da arte num mundo de vontade e representação da esplêndida imagem divina daquilo que Nietzsche vai chamar de “principium individuationis” que expressa toda aparência da beleza. Para Guinsburg, Nietzsche o faz radicar no fato indubitável de se tratar do deus da luz, isto é, com um poder de erscheinen, o que o torna der Erscheinende e o vincula a outros termos como schein e erscheinung, que significam a um só tempo aparência, brilho e ilusão, que são operadores básicos do jogo filosófico schopenhaueriano adotado pelo autor de “O Nascimento da Tragédia” como urdimento fenomenológico e ao mesmo tempo artístico. Nesta perspectiva, Apolo não é mais artista mas é a representação do homem como obra de arte, que ele chama-a de “a força artística de toda a natureza, para deliciosa satisfação do “Uno-primordial”. É daí que entre o princípio dionisíaco. SEGUNDO PRINCÍPIO: DIONISÍACO O termo tem origem no deus grego Dionísio . O deus Dionísio, do vinho e da festa. Os homens experimentavam a exacerbação dos sentidos, a vertigem e o excesso nos cultos ao Dionísio, o Baco dos romanos. O dionisíaco, é como um apolíneo uma pulsão cósmica, só que de outro tipo. Nela, se aniquilam as fronteiras e limites habituais da existência cotidiana. É o prazer da ação, a inspiração, o instinto, o que levava em seus cultos, à experimentação dramática da existência. Embora Dioniso ocupe um lugar central em “O nascimento da tragédia” a partir do espírito da música, ele somente surgirá novamente como núcleo das reflexões de Nietzsche próximo à conclusão de “Assim falava Zaratustra”. Em sua obra tardia, Nietzsche declarou ser um discípulo de Dioniso, colocou “Dioniso contra o Crucificado”, e a própria filosofia nietzschiana da vontade de potência e do eterno retorno encontrou, nele, seu espelhamento. O mito dionisíaco é a exaltação festiva, encarnada na folia da orgia, e corroborada pela música. Essa ação deu lugar ao apreço civilizatório socrático e suas ações e acontecimentos desapareceram na Grécia, deixou de ser vivenciado pelos homens. Mas será que ele sumiu para sempre? Nietzsche reconhece que não. Em Wagner um Ésquilo moderno, que restaura os mitos instintivos, tornando a unir a música e drama em êxtase dionisíaco. Ora, é justamente a intensificação da reflexão em torno de Dioniso a partir de 1884 que conduzirá o filósofo a modificar o título da segunda edição de sua primeira obra para O nascimento da tragédia ou Helenismo e pessimismo. A mudança deixa entrever que Nietzsche passa, então, da tragédia grega enquanto problema estético, para uma concepção que foi sendo gestada ao longo dos anos em seu pensamento: a filosofia trágica. “O que é o dionisíaco? [...] a questão fundamental é que relação entretiam os gregos com a dor? [...] de onde provém, então, a demanda [...] do horrível, esta maneira franca e rigorosa que tem o antigo heleno de querer o pessimismo, o mito trágico, a imagem de tudo aquilo que há de terrível, de cruel, de enigmático, de destruidor, de fatal no fundo da existência – de onde proviria, então, a tragédia? Talvez do prazer, da força, de uma saúde transbordante, de uma plenitude excessiva? E qual é, então, fisiologicamente falando, a significação deste delírio de onde saiu a arte trágica tanto quanto a arte cômica, o delírio dionisíaco? [...] e se os gregos, precisamente em toda a riqueza de sua juventude, tivessem querido o trágico, se eles tivessem sido pessimistas? (NIETZSCHE, “Prólogo”, § 4).” Em “O Nascimento da tragédia”, Nietzsche reconhece que, na verdade, o deus Dioniso vinha já, ali, oferecer-se como a resposta mais afirmativa para a questão do valor da existência, pois se mostra como potência artística e originaria que chama à existência em geral o mundo todo da aparência. Segundo o ponto de vista de O nascimento da tragédia, existe outro elemento fundamental sob o qual a cultura apolínea teria se edificado. Esse elemento seria o dionisíaco. Conforme as palavras o próprio Nietzsche: A seus dois deuses da arte, Apolo e Dionísio, vincula-se a nossa cognição de que no mundo helênico existe uma enorme contraposição, quanto as origens e objetivos, entre a arte do figurador plástico [bildner], a apolínea, e arte não – figurada [unbildlichen] da música, a de Dionísio: ambos os impulsos , tão diversos, caminham lado a lado, na maioria das vezes em discórdia aberta e incitando-se mutuamente a produção sempre novas, para perpetuar nelas a luta daquela contraposição sobre a qual a palavra comum ‘arte’ lançava apenas aparentemente a ponte [...]. (NIETZSCHE, p.27). É esse o caráter de sua música, segundo Nietzsche, que , junto com o povo alemão iria restaurar o mundo experimentado sob transe místico. A música é uma linguagem universal em alto grau. Todas as sensações humanas, seus esforços, seu interior, pode se refletir e exprimir pelas melodias. A razão lança isso no conceito negativo do sentimento, diz Nietzsche. A música é expressão da vontade. O peso da existência é atenuado com estimulantes, e deles derivam a civilização. Pode ser socrática, artística ou trágica. Exemplos respectivos: a civilização alexandrina, helênica ou hindu. A característica da civilização socrática é o otimismo, que está escondido na lógica. Ao mito se sucedeu a clareza do conhecimento CONCLUSÃO Em suma, “apolíneo e dionisíaco” devem ser pensados como tendências ou impulsos artísticos antitéticos, pois a natureza de qualquer arte em qualquer época pode variar no sentido estético mas não no sentido da subjetividade. No contexto de “O nascimento da tragédia”, a interpretação empreendida por Nietzsche a respeito do trágico vincula-se à tragédia grega, espaço em que aconteceria a conciliação entre o dionisíaco e o apolíneo, duas pulsões criativas da natureza que outrora atuavam em universos distintos, mas que tem como “telos” dar forma a existência. Dionísio pulsa sem nome e sem forma, mas quando se une a Apolo toma forma, ou seja é uma representação que tomou forma em Apolo. Por outro lado, o princípio dionisíaco sempre se revela como contraponto à racionalidade moderna, pois transpõe as normas apolíneas ou o mundo das formas transportando para potências míticas e imaginárias em uma verdadeira defesa da arte que se consolida. O estado apolíneo não é senão o resultado extremo da embriaguez dionisíaca, uma espécie de simplificação e concentração da própria embriaguez. O estilo clássico representa esse estado e é a forma mais elevada do sentimento de potência. Na esteira de Nietzsche, Spengler chamou apolíneo “a lama da cultura antiga que escolheu o corpo individual presente e sensível como tipo ideal da extensão”. (ABBAGNANO: 1970, p. 70). O dionisíaco vem romper com as fronteiras do indivíduo, aquelas tão bem vigiadas durante o estado apolíneo. Ou seja: enquanto o impulso apolíneo preza pela medida, o dionisíaco é a desmedida e Nietzsche consiste em dizer que estes dois impulsos, tão diferentes entre si, reuniram-se pela primeira vez com os gregos e geraram a tragédia ática. Nietzsche conclui sua obra afirmando que: Aqui o dionisíaco, medido com o apolíneo, se mostra como a potência artística eterna e originaria que chama à existência em geral o mundo todo da aparência: no centro do qual se faz necessária uma nova ilusão transfiguradora para manter firme em vida o ânimo da individuação. Se pudéssemos imaginar uma encarnação da dissonância e que outra coisa é o homem? Tal dissonância precisaria a fim de poder viver, de uma ilusão magnífica que cobrisse com um véu de beleza a sua própria essência. Eis o verdadeiro desígnio artístico de Apolo: sob o seu nome reunimos todas aquelas inumeráveis ilusões da bela aparência que a cada instante, tornam de algum modo a existência digna de ser vivida e impelem a viver o momento seguinte. (NIETZSCHE: 1992, p.143). O Dionísiaco, por certo, fala a linguagem do “eterno padecente e pleno de contradição”, mas por si só é destrutivo - tal como eram destruidores os selvagens coros bátícos anteriores aos gregos, que iam da Ásia Menor até a Babilônia e as sáceas orgiásticas. Inicialmente os princípios opostos, foram entendidos por Nietzsche como a atitude própria do super-homem e como o fundamento daquela inversão de valores que ele se propunha. BIBLIOGRAFIA ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1970. BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia grega. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1991. Vol.2. LESKY, Albin. A Tragédia Grega. Trad. J. Guinsburg; Geraldo Gerson de Souza; Alberto Guzik. São Paulo: Perspectiva, 1990. NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia, ou Helenismo e pessimismo. Tradução, notas e posfácio J. Guinsburg. - São Paulo: Companhia das Letras, 1992. RODRIGUES, Luzia Gontijo. Nietzsche e os gregos: arte e “mal-estar” na cultura. São Paulo: Anna Blume, 2003. ZILBERMAN, R. “A fundação da literatura brasileira”. Revista de literatura comparada. São Paulo, Associação Brasileira de Literatura Comparada/ABRALIC, v 2, maio de 1994, p. 59-68. ________________. Revista de Pós-Graduação em Letras da PUC-RS. (cadernos/Nietzsche) v.2, p. 67-82, 1997.

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